"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Memorial

scraps para orkutRevirei as páginas de minha vida e me peguei pensando se na infância havia lido muitos livros. E para minha decepção pude perceber que não conseguia me recordar de nenhum título que me chamasse a atenção. Talvez até a 4ª série do ensino fundamental meus professores tradicionalistas não se preocupassem tanto com isso e poucas histórias me foram lidas nessa fase.
Quando entrei na 5ª série do ensino fundamental conheci uma professora de português chamada Vera que me despertou para a leitura. Ela passava muitas sugestões de leitura para a turma e eu sempre visitava a biblioteca. Foi com ela também que aprendi a gostar da língua portuguesa. Tudo que me ensinava aprendia com facilidade e então fui degustando passo a passo a reflexão da língua. Tive as melhores aulas de língua materna até a 8ª série do ensino fundamental.
Algo dentro de mim impulsionava para o caminho dessa professora. Tomei a decisão de fazer o curso normal, mesmo um pouco confusa de que caminho profissional seguiria. Durante os quatro anos de curso normal foi que descobri a verdadeira vocação: lecionar.
Numa escola de educação infantil pude colocar em prática toda vontade de ensinar. O momento mais maravilhoso era poder sentar em círculo com meus pequenos alunos e abrir um livro cheio de gravuras que encantavam. Nesse momento despertava em mim a contadora de histórias. Fiz de tudo para que meus alunos tivessem uma experiência marcante com os livros, coisa que eu não tive. Aos finais de semana, cada um levava um livro para os pais lerem com seus filhos e quando voltavam na segunda-feira, os alunos ficavam ansiosos para contarem suas histórias na "roda de conversa". No decorrer do ano, o meu maior prazer era ver esses alunos se alfabetizando, escrevendo suas primeiras letras e lendo seus próprios livros. Foram sete anos maravilhada com essas "gotinhas de sabedoria".
Mas nossa vida sempre passa por fases, como a transformação de uma lagarta em borboleta. Sim, também sofri uma metamorfose. Até o ano de 2005 vivi numa cidade do interior de São Paulo, ao lado dos pais, lecionando para alunos de pré-escola, fazendo faculdade de letras, vivendo, namorando, divertindo-me, terminando a faculdade, lendo, ah claro, os livros não poderiam ser esquecidos.
Em 2006, saí do casulo, sofri literalmente a transformação, casei-me, deixei meus pais, deixei meus alunos, deixei minha cidade, deixei meus amigos e vim morar na capital do Brasil, acompanhando meu marido.
No meu primeiro ano aqui, fiquei afastada da sala de aula, ainda estava fragilizada com a transformação. No segundo ano, uma nova experiência: trabalhar com adolescentes.
Ao final de 2008, posso dizer apesar dos obstáculos que enfrentamos com os jovens de hoje, que dei um salto positivo em minha vida, estou exercendo verdadeiramente minha profissão. Agora o que me resta é fazer com que a "borboleta voe mais alto" em busca de novos horizontes, em busca de novos conhecimentos, novos cursos, novos livros, novas maneiras de trabalhar com os alunos no mundo de hoje. Eu ainda não li o quanto deveria, mas quero iluminar ainda mais o meu caminho com as luzes do saber e isso só será possível se eu nunca parar de ler.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A arte de ensinar

Ensinar é amar. É buscar a essência do prazer do outro. É acreditar na capacidade de construção do ser ainda que se esbarre em obstáculos.
A arte de ensinar envolve o concreto e o abstrato...
O concreto é a matéria, é o escrever, o ler, o assimilar. O abstrato são as relações que acontecem por traz do ensinar, envolve a empatia, o humor, o gosto, a vontade e por que não o amor?
Sem o amor nada se alcança, sem o amor nada se constrói, sem o amor não se atinge o coração do aluno e assim jamais se despertará sua mente para que realmente aprenda.
Para que haja aprendizagem verdadeira é preciso que haja uma situação de interação em sala de aula e para isso professor e aluno precisam aceitar um ao outro, num clima de respeito. O professor precisa aceitar a bagagem que o aluno traz de sua vivência, acima de tudo o que ele pensa da realidade.
Se o aluno pensa, ele é capaz de se expressar e essa expressão pode acontecer de diversas formas, uma delas é através da linguagem, mesmo que a linguagem usada por esse aluno esteja fora dos padrões formais de língua. E esse será o papel da escola, mostrar ao aluno que existem outras formas de comunicação que são vistas como formas prestigiadas da sociedade.
O professor que não cultiva dentro de si o cuidado ao passar esses ensinamentos correrá o risco de ser preconceituoso e negar qualquer outra forma de comunicação a não ser aquela aceita pela gramática normativa. A diferença na forma de ensinar está naquilo que já havia afirmado, ensinar com amor. É preciso temperar nossas aulas com amor para que ela se torne prazerosa e fácil de degustar, e só assim a escola deixará de ser meramente uma "panela" em que se jogam os ingredientes de acúmulos de informação.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trabalho com os alunos da 5ª série

Nossos encontros estão se tornando cada vez mais prazerosos, pois a cada aula temos a oportunidade de conhecer, através das socializações de atividades, um pouco do trabalho das demais colegas de sala. Isso tudo se torna possível considerando que nos manifestamos linguisticamente e quando fazemos isso, o fazemos por meio de textos nas mais diversas modalidades.
E hoje foi um dia especial, pois tive a oportunidade de apresentar um pouco da minha experiência em sala de aula como professora de língua materna. O primeiro passo antes de aplicar uma atividade de reflexão e análise da linguagem foi pensar nos objetivos que gostaria de alcançar com determinada atividade. Escolhi uma atividade de jornal falado do fascículo 7 e fiz as minhas adaptações. Meu objetivo: desenvolver no aluno a capacidade de escolha da linguagem adequada à situação comunicativa.
No primeiro momento, em dupla, os alunos fizeram uma pesquisa sobre como os jornalistas apresentam os jornais. Assistiram aos vários tipos de programas informativos para depois criarem seus textos e treinarem a postura.
Eles fizeram um esboço do que iriam apresentar e depois que corrigimos os textos, vieram as apresentações.
Os jornais falados foram um sucesso e eles se divertiram e se envolveram no trabalho do começo ao fim. As aulas de Português se tornaram mais atrativas e chamavam atenção das pessoas que passavam pelo corredor.
Percebi que em minhas aulas estava mais preocupada com a escrita e deixando a oralidade para trás. Agora percebo o quanto aulas desse tipo são proveitosas e mudam a rotina escolar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma reflexão sobre o ditado em sala de aula

"A afatipa velo pode vê.
Maria linfou o jamoso peixaral.
Zambão sarrega o japeguinho.
O circuxento ortecujou a gimália."
Você deve estar estranhando as palavras acima. Elas até parecem uma língua inventada, mas não é nada disso não. No encontro de hoje, essas palavras nos foram ditadas para que escrevêssemos da maneira como ouvíssemos.
Após o ditado comparamos as formas com que cada professora escreveu as frases (se é que podemos chamar isso de frase). As palavras que apresentaram diferenças nas formas escritas foram aquelas em que o som não deixava claro qual letra devíamos usar, pois não existem regras para essas palavras desconhecidas. Exemplos: circuxento/ circuchento/ sircuxento.
Ao transferirmos essas reflexões para a realidade de nossos alunos, podemos concluir que, atividades como essa em sala de aula podem descaracterizar o ensino da língua.
Durante um ditado, muitos problemas podem impedir que o aluno compreenda exatamente o que o professor quis dizer como: ruídos; pronúncia diferente da forma como se escreve uma palavra, como o som do "e" na escrita aparece como "i" na fala; e ainda o fato de ditar palavras que o aluno não costuma usar e totalmente fora do contexto.
A melhor forma de fazê-lo aprender a ortografia de algumas palavras é com a leitura constante e o uso de dicionário, pois vendo na prática como pode fazer uso de tais palavras terá mais capacidade de memorizá-las.
Além disso, devemos deixar claro a importância do uso do dicionário para esclarecer dúvidas, ao qual também recorremos mesmo sendo professores de português.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Olhar com outros olhos

Como é difícil treinar nossos olhos para perceber o que está implícito seja numa figura, num texto ou quem sabe até no olhar de uma pessoa.
Digo isso porque hoje em nosso encontro tivemos a oportunidade de realizar algumas atividades com textos escritos, textos que nos levavam a pensar que se tratavam de um "objeto x" ou um "sentimento y" e que na realidade não tinham nada a ver com o que pensávamos. Ou que pudesse falar de todas as hipóteses ao mesmo tempo. É o que já disse: treinar os olhos para ver o que está "por trás".
Até mesmo algumas imagens podem nos mostrar uma ilusão de ótica. Imagens podem ser interpretadas, vistas por olhos atentos, uma imagem pode transformar uma figura de acordo com o que se quer ver.
Assim são as pessoas, assim são nossos alunos. Podemos olhar dentro de seus olhos e tentar interpretá-los. Tentar entender porque apresentam dificuldades na aprendizagem. Muitos deles escondem dentro de si uma história difícil de vida que os impediram de vencer nos estudos. Apresentam dificuldades que a escola não consegue descobrir, porque a maioria dos profissionais não foram treinados para olhar para eles com outros olhos.
Pois então, vamos olhar para suas "janelas da alma". O olhar triste de um jovem nos mostra quando ele precisa ser decifrado. Uma atenção para esse olhar pode fazer a diferença. Ele espera que alguém o retire desse abismo e traga-o à luz da aprendizagem.
Vamos treinar nossos olhos para ver o que está "por trás" de tantos problemas de aprendizagem e isso só será possível se unirmos o ato de ensinar com o ato de amor, carinho e atenção.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A mudança da língua frente a outras mudanças

Como posso começar a escrever? Parece-me uma tarefa árdua essa de colocar as palavras certas para expor o que penso. Escrever é algo que requer reflexão, requer silêncio, mas ao mesmo tempo requer o som. O som de uma música? O som de palavras proferidas a distância?
Demoro um pouco a descobrir, todavia é o som de meu próprio pensamento que ouço; ouço porque falo comigo mesma.
O que sinto hoje? O que sou? Não sou mais a mesma professora que iniciou este curso de "Alfabetização e Linguagem" pensando em encontrar fórmulas secretas para fazer meus alunos aprenderem a "escrever certo" e quem sabe até "falar certo".
E o que encontrei? Encontrei o caminho para corrigir a mim mesma. Corrigir a minha própria forma preconceituosa de pensar. Pensar que eu sendo professora era "dona do saber" e que meus alunos falantes de "língua materna" precisavam aprender a usar a língua portuguesa.
E o que aprendi? Já em tempo, eu aprendi que se eles são falantes de língua materna, então eles conhecem a língua que falam. Eu aprendi que a forma como falam é uma das variedades de língua, aquela que os linguístas chamam de linguagem coloquial.
E quanto a nós professores de língua portuguesa, fazemos uso somente da linguagem chamada padrão?
Quem é que nunca se pegou num momento de descontração com a família ou com amigos íntimos a usar "a gente vai" ou até "cê vai?", e não deixou de saber fazer uso da língua portuguesa. Acho até que somos bilíngues, pois sabemos fazer uso das duas modalidades de língua (padrão e coloquial).
E o quanto nos pesa o nome de "professores de português"! Na escola somos chamados a decifrar palavras difíceis que ninguém sabe o que é e logo já vem alguém dizer: "pergunte à professora de português". Não passa pela cabeça de outros professores que também temos dúvidas e que para esclarecê-las também recorremos ao dicionário. Não passa também pela cabeça deles e de muita gente que a noção de "erro" de que a escola tradicional sempre falou sempre esteve equivocada. Aprendi com Marcos Bagno que "a expressão 'erro comum' constitui do ponto de vista linguístico, uma contradição em termos: se é comum, não poderia ser qualificado de erro, mas simplesmente de uso comum, já que é a comunidade de falantes que, num trabalho constante com a língua e sobre a língua, vai empregando e recriando o idioma ao longo da história."
É isso mesmo! A língua que falamos hoje é uma "recriação", uma "evolução". Acho que a essa altura já deveríamos falar em uma língua brasileira, já que a língua portuguesa não tem dado conta dessa variedade de língua usada pelos falantes brasileiros.
E não há como frear as mudanças da língua que é viva e não estática. E o próprio Marcos Bagno diz: "Afinal, não só a língua mudou: mudaram também as mentalidades, os gostos, as modas, as formas de organização da sociedade, os modos de produção de vida material, os sistemas econômicos, os regimes políticos, os conhecimentos sobre o homem e a natureza etc. Não há porque esperar que só a língua (>norma > gramática) permaneça imóvel, inalterada e protegida das mudanças que afetam tudo o que diz respeito ao ser humano e à sua vida histórico-social."
E se muita coisa mudou, posso dizer que também mudei minha forma de ensinar. Claro que ainda tenho um longo caminho a percorrer, e para isso continuarei estudando e descobrindo novos caminhos para conseguir ensinar de uma forma que os alunos entendam que a escola dá-lhes a oportunidade de aprender uma língua com prestígio social.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mudança linguística

"Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério."

Carlos Drummond de Andrade

As palavras de Carlos Drummond nos explica realmente como nos sentimos ao tentar ensinar o uso da língua portuguesa para nossos alunos. Se eles fazem uso da língua portuguesa falada, por que a linguagem escrita se torna um "bicho de sete cabeças"?
"Professora, se eu falo 'muinto' por que devo escrever 'muito'? São questões assim que me pego tentando responder. O que tento falar para eles é que a linguagem escrita deve estar dentro do uso padrão e ortográfico, claro que a língua falada sempre apresentará uma variedade de uso.
E o que dizer de alguns usos como o caso citado no fascículo 6 (o uso da palavra fruta como fruita)? Algumas pessoas fazem uso dessa palavra e ao ouvirmos consideramos como erro, porém no estudo da evolução da palavra percebemos que a forma fruita era a maneira usada no passado para indicar essa palavra. Assim tínhamos fructa> fruita> fruta, e hoje ainda ouvimos pessoas usarem a variedade fruita e esse fenômeno vem associado com o nível de estudo. É como se essas pessoas parassem no uso conservador da língua enquanto outras fazem uso da forma inovadora "fruta". Para explicar uso como este, na segunda metade do século XX, alguns pesquisadores começaram a insistir na necessidade de considerar a língua como um sistema essencialmente heterogêneo e variável.
A sociolinguística é uma ciência nova que vem nos explicar que as línguas mudam porque variam. "As línguas mudam porque, em todos momento de sua história, elas apresentam variação, isto é, concorrência entre duas ou mais maneiras de expressar o mesmo conteúdo. As línguas mudam porque são faladas por seres humanos inseridos em sociedades heterogêneas, sociedades divididas em classes sociais, em grupos de poder, onde existem relações de dominantes sobre dominados, onde os meios de acesso ao prestígio social são distribuídos desigualmente."
E essa mudança linguística é inevitável como toda mudança que ocorre no mundo e o que nos resta a fazer como professores de língua materna é encontrar maneiras inteligentes e interessantes de lidar com essas mudanças.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Análise da variação linguística através do filme brasileiro "Desmundo"

No encontro de hoje tivemos a oportunidade de assistir ao fime "Desmundo". "A história se passa no Brasil, por volta de 1570. Chegam ao país algumas órfãs, enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os primeiros colonizadores. Uma delas, Oribela (Simone Spoladore), é uma jovem sensível e religiosa que, após ofender de forma bem grosseira Afonso Soares D'Aragão (Cacá Rosset) se vê obrigada em casar com Francisco de Albuquerque (Osmar Prado), que a leva para seu engenho de açúcar. Oribela pede a Francisco que lhe dê algum tempo, para ela se acostumar com ele e cumprir com suas "obrigações", mas paciência é algo que seu marido não tem e ele praticamente a violenta. Sentindo-se infeliz, ela tenta fugir, pois quer pegar um navio e voltar a Portugal, mas acaba sendo recapturada por Francisco. Como castigo, Oribela fica acorrentada em um pequeno galpão. Deprimida por estar sozinha e ferida, pois seus pés ficaram muito machucados, ela passa os dias chorando e só tem contato com uma índia, que lhe leva comida e a ajuda na recuperação, envolvendo seus pés com plantas medicinais. Quando ela sai do seu cativeiro continua determinada a fugir, até que numa noite ela se disfarça de homem e segue para a vila, pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um português que também morava na região."
Esse filme mostra claramente o domínio do homem sobre a mulher, as diferenças étnicas entre as personagens: índios, negros, portugueses, espanhóis, além disso, fica-nos clara a mudança ocorrida com a língua portuguesa. É uma linguagem falada por volta do século XVI e que, em muitos momentos do filme ficaríamos sem entender o que estavam falando não fosse a presença da legenda que nos orientou.
Essa mesma língua falada por eles é a nossa língua portuguesa dos dias de hoje. Mas então, por que temos tanta dificuldade em entendê-la?
A língua que eles usavam tinha uma formatação diferente da nossa atualmente. Especificamente as formas verbais foram as que mais mudaram. Através do filme percebemos o uso de algumas palavras como por exemplo "suzinho" ao invés de "sozinho", que hoje, se ouvimos alguém falar daquela forma, consideramos como um "erro".
Há um mito no ensino da língua portuguesa. O que muitos consideram como erro é na realidade uma diferente forma de falar e que se formos analisar diacronicamente a "palavra" chegaremos à conclusão de que em algum momento histórico-cultural a mesma palavra considerada erro foi usada por falantes da língua portuguesa.
Porém, se uma língua apresenta uma distância tão grande entre uma forma de falar e entender, vêm-nos a questão: será que falamos a mesma língua? Então os linguistas responderiam que a língua é a mesma e que nós poderíamos nos considerar bilíngues, pois temos dentro de uma mesma língua várias formas de nos comunicar, basta escolher entre a forma padrão e a coloquial. E sabemos que por vários motivos (social, econômico, nível de formalidade, nível escolar...) grande parte das pessoas fazem uso da forma coloquial da língua, até mesmo as pessoas consideradas "estudadas".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Visita à Feira do Livro

Em nossa visita à feira do livro passamos pela Livraria Arco-Íris e tivemos um encontro marcado com a escritora Lucília Helena Garcez.
Ela falou da nossa responsabilidade como professoras de Língua Portuguesa. Temos que fazer com que o aluno reflita sobre o funcionamento da língua. Isso só será possível com a leitura constante.
Segundo Lucília, para transformar nossos alunos em leitores, temos que promover o contato com livros através da valorização da leitura, criando um espaço para leitura por prazer e não como obrigação ou castigo. Falar de nossas próprias leituras, valorizar os livros fazendo propaganda deles, para incentivá-los a querer ler também. Buscar o acervo da biblioteca para saber o que podem ler e até mesmo criar projetos para que a escola ganhe mais livros e assim aumentar os títulos dos quais podem buscar.
Podemos ainda criar um espaço para troca de idéias sobre os livros lidos. Quem lê deve fazer propaganda de seu livro para que outros também queiram lê-lo. Ninguém vai gostar de ler senão encontrar prazer na leitura. As pessoas vão em busca de livros e gostam daqueles que eles possam aproveitar para a vida. É preciso uma certa tolerância para permitir que as crianças leiam aquilo que gostam e assim despertarão o prazer em ler.
Para finalizar esse encontro prazeroso ela disse: "É importante que as crianças descubram o mundo das letras".

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Análise do livro didático

Escolhi o Livro "Tudo é Linguagem" de Ana Borgatto, Terezinha Bertin e Vera Marchezi da Editora Ática, por ser o livro que trabalho com meus alunos atualmente.
Do ponto de vista do estudo das variedades linguísticas, o livro nos mostra que a língua portuguesa não tem uma forma única e acabada. Que a escola ensina uma das variedades da língua considerada a "padrão", mas que existem outras variedades de língua cujo uso é influenciado por vários fatores: região em que o falante vive, situação em que é utilizada, faixa etária, nível de escolaridade e também a intenção. A forma como essas variedades são estudadas deixa claro que não deve haver o preconceito linguístico em relação aos diversos falantes de língua portuguesa.
Os textos são variados desde contos em prosa e em poesia, até mesmo notícias, textos instrucionais, diálogo argumentativo, história em quadrinhos, letras de músicas, além de estudo de gráficos, pinturas e fotos. A interpretação de tais textos instiga os alunos a pensarem sobre as questões e dialogarem sobre a possibilidade das respostas. Além de desenvolver a escrita dos alunos também têm propostas de atividades orais.
O livro também trabalha com a intertextualidade, pois ao mesmo tempo que coloca para os alunos uma "notícia, por exemplo", com toda sua forma de apresentação e linguagem própria, logo em seguida aparece uma "notícia em forma de poema", para mostrar que um gênero textual nem sempre aparece de forma única.
A gramática é contextualizada, ela é sempre estudada sobre o ponto de vista do texto e nunca em palavras soltas ou com exercícios repetitivos.
O livro é muito bem ilustrado com belas figuras e fotos que o tornam mais gostoso de ler e estudar. Logo ao final do volume encontramos as sugestões de filmes, canções e livros onde podemos buscar mais informações sobre cada assunto estudado.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Redação feita por um aluno em sala de aula




Em um de nossos encontros do curso, lembro-me quando fizemos a leitura do Texto: "Celulares, só faltam dominar o mundo" de Antônio Brás Constante. Percebi imediatamente que os alunos adorariam ouvir essa história, pois trata-se de um assunto atual e de que eles gostam muito, o celular e suas novas tecnologias.
Durante o 2º bimestre na escola CEF 08 de Taguatinga estava trabalhando com redação, quando refleti sobre qual tema usaria para despertar o interesse dos alunos. Levei para sala de aula a leitura desse texto e fizemos umas questões de interpretação nas primeiras aulas. Após as questões, debatemos o assunto. Enfim, para encerrarmos, fiz a seguinte proposta.
"Depois de ler o texto: Celulares, só faltam dominar o mundo", agora é a sua vez de soltar a imaginação. Conte uma história em que os celulares conseguiram dominar o mundo. Como os humanos sairiam dessa situação?
Abaixo apresento uma das histórias entre tantas outras criativas que li.

REDAÇÃO: OS CELULARES

Hoje dia 7 de junho de 3005, o celular conseguiu dominar o mundo, mas isso é uma longa história que vou contar agora.

Depois que nós humanos conseguimos fazer a AI (Inteligência Artificial) o celular, pegou muitas informações importantes. Ele comunicou com outro celular, que era de uma pessoa que construía robôs.

E fez com que os celulares tivessem acesso ao satélite para dominar os robôs, e com isso os robôs pegavam as pessoas e colocaram em cadeias e jaulas como prisioneiros.

O celular Chefe dava ordens para as pessoas brigarem entre si como na era antiga, até que uma pessoa fosse à morte.

Eles só não conseguiram me pegar porque estou em um lugar subterrâneo onde ninguém pode entrar, e estou construindo armas e carros fortes para combater as máquinas.

Finalmente terminei e eles estão quase me achando. Minha proposta é invadir o Gabinete do Presidente e desligar os robôs com isso vou ganhar tempo e destruir o satélite e os celulares.

Agora dia 9 de junho de 3005, vou sair do meu esconderijo e invadir!

- Droga tem muitos robôs e muitas pessoas mortas,

- Socorro! Socorro!........

Esta história foi reconstituída em fatos reais.

Tirada de um diário perdido em 9 de junho de 3005,
onde aconteceu a rebelião do celular.

Lucas Moraes Aluno da 6ª E do CEF 08

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Continuação das discussões sobre Gêneros e tipos textuais


Maria Luiza Monteiro Sales Coroa no fascículo 2 diz que "sempre que nos manifestamos linguisticamente, o fazemos por meio de textos mesmo que esses textos sejam tão curtos e simples quanto uma palavra ou tão longos e complexos quanto um livro de seiscentas páginas".
A partir dessas afirmações concluímos que em nosso meio, produzimos textos o tempo todo, quer sejam de forma escrita ou oral. De acordo com a finalidade e a situação fazemos escolhas para organizar nossas idéias. Portanto, o gênero textual é escolhido de acordo com a situação de comunicação.
E fazemos essa escolha quando já desenvolvemos a capacidade de uso da linguagem, com base no conhecimento de mundo que vamos adquirindo, portanto os gêneros são construções históricas e culturais. Logicamente que se compararmos as cartas formais de décadas atrás com os e-mails que hoje fazemos uso, perceberemos a necessidade da criação de novos gêneros textuais.
Os estudos sobre gêneros e tipos textuais nos despertam para uma questão: quantas vezes reprimimos nosso aluno dizendo que errou em uma produção textual, que não poderia escrever daquele jeito...e outros comentários que podem podar o aluno nas próximas atividades escritas.
O que me fez enxergar esse erro foram as propostas do fascículo 2 em Retratos de sala de aula. Confesso que antes de ler os três olhares de professor-pesquisador, consideraria as formas de escrever dos dois alunos como "equivocadas" e corrigiria os elementos coesivos, a maneira de escrever parecido com a fala e algo mais que parecia faltar nos textos. Quando Maria Luiza Monteiro Sales Coroa comenta que a escolha do gênero textual é coerente com a proposta de atividade "porque atende às finalidades sociocomunicativas", percebi que é preciso rever a forma de avaliarmos nossos alunos antes de fazê-los revisar um texto e corrigir possíveis erros. E antes de falar em escolha do gênero textual devemos saber que cada um tem um estilo na hora de produzir seu texto também, que corresponde "às marcas do usuário da língua".

Logicamente jamais esquecerei das lições desses dois últimos encontros: gêneros textuais são muito diversificados porque atendem à grande variedade de situações sociocomunicativas, já os tipos textuais são classificados em um número restrito e definidos por critérios linguísticos e formais, e como cada texto pode apresentar mais de um tipo textual, a classificação se dá pela predominância de cada tipo.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Gêneros textuais e Produção Lingüística

Quanto mais pensamos que sabemos tudo e já não temos o que aprender, é que estamos enganados. A escola é sempre um aprender e reaprender. Nós professores estamos em constante aprendizado e é preciso sempre se atualizar, pois as mudanças no mundo de hoje são rápidas, precisamos aceitar as novas tecnologias em nossas vidas e fazer delas um grande suporte em sala de aula.
Digo isso porque hoje em nosso curso analisamos algumas colocações de Luiz Antônio Marcuschi sobre os "Gêneros Textuais e Produção Lingüística" e chegamos a conclusão de que muitos livros didáticos dão uma noção equivocada sobre gêneros textuais e tipos textuais. É preciso se atualizar, voltar a estudar temas que achamos serem de nosso total domínio.
O que sabemos é que os textos não são modelos estanques, ao contrário, eles mudam de forma, porque há interação. Exemplos claros são textos que possuem estrutura de poema, porém fazem uma narrativa, receitas em forma de poesia, narrativas com linguagem poética e outros mais.
Para Marcuschi, "tipos textuais são modos textuais, eles abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção; ou seja, é um conjunto limitado, sem tendência a aumentar."
Ainda segundo o mesmo autor, "os gêneros textuais são o textos concretizados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sócio-comunicativos característicos definidos por composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas, sociais, institucionais e técnicas. Como exemplos encontramos romance, bilhete, carta, receita culinária, piada, e-mail, notícia e outros."
Há muita controvérsia sobre considerar a linguagem de um e-mail ou de um bate-papo como um gênero textual. Muitos professores criticam esta linguagem, dizendo que ela veio para acabar com a Língua Portuguesa e que os alunos estão desaprendendo a gramática. É uma discussão que nos faz abrir os olhos, as mudanças estão acontecendo e precisamos aceitá-las. O problema é como trabalhar usando esse suporte de forma adequada. Precisamos fazer com que nossos alunos percebam que na escola, durante uma produção textual não poderão usar a linguagem da internet. Que a linguagem da internet se aproxima da linguagem oral para se tornar rápida e dinâmica, e seu uso é próprio para se comunicar virtualmente com as pessoas. Que na internet também encontramos textos para pesquisas e que esses textos devem ser analisados criticamente antes de serem colocados em trabalhos.
Acredito que antes de mais nada, nós professores é que precisamos aprender como lidar com as novas tecnologias para instruirmos nossos alunos. E se querem saber, nesse campo eles já tem muito a nos ensinar, é por isso, que hoje a escola é mais do que sempre foi um campo de ensino-aprendizagem, todos sempre têm algo a aprender e a ensinar.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Recomeçar


Todo recomeço não é nada fácil. Depois de alguns dias de recesso escolar, posso dizer que me senti como os alunos, uma certa preguiça de voltar a acordar cedo, marcar hora para chegar... E por falar em hora, hoje começou mais um encontro do nosso curso. Eu ainda pareço um pouco perdida, estive no interior de São Paulo em todo recesso e quando volto para Brasília tenho que me habituar novamente com toda essa agitação. Pois é, e justo nesse dia acabei chegando atrasada. Confesso que não estava lá muito animada, ainda sonolenta, mal acostumada com as férias. E com meu atraso acabei perdendo o início do encontro. Mal sabia eu que ao final do curso ainda receberia o diário de bordo para trazer para casa.
Felizmente através de uma conversa informal com minha amiga Erli eu consegui me sintonizar. Nosso encontro foi muito dinâmico, cheio de atividades práticas de sala de aula.
De todas as atividades, a que mais gostei foi a de escrever "substantivos", "adjetivos" e "verbos" em um papel em branco nas costas de cada colega. No ritmo da música andávamos e dançávamos e em cada parada seguíamos os comandos. Terminada esta etapa, tínhamos que escrever um texto falando sobre nós e usando as palavras da folha. Foi divertido participar e emocionante ouvir os relatos de cada uma.
Depois desse dia tão dinâmico e feliz, posso realmente dizer recomeçar é mesmo renovar, é uma forma de buscar forças para continuar. E esse foi um bom recomeço, um dia de lançarmos sorrisos, dizermos olá, porque afinal estamos de volta ao nosso grupo de professoras, de colegas de trabalho e amigas de profissão...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Discussão acerca do termo Letramento


Hoje, 10 de julho de 2008, aconteceu na escola uma avaliação pedagógica com todos os professores para encerrar o 1º semestre. Eu e minha colega Nelmara, da escola Centro de Ensino Fundamental 14 de Taguatinga, nos reunimos com o objetivo de preparar um debate reflexivo sobre o termo Letramento, abordando aspectos gerais.
Na escola houve um delicioso café da manhã e logo após a avaliação, reunimo-nos na biblioteca da escola preparadas com retroprojetor. Antes mesmo de debatermos o assunto, fizemos um esclarecimento sobre como funciona o curso do CEFORME e por quê motivo promovemos tal debate. Em seguida, propusemos uma atividade: um ditado de algumas palavras com um alto grau de dificuldade para o grupo tentar escrever.
A conclusão dessa atividade foi de que mesmo apresentando dificuldades na escrita de algumas palavras não significa que a pessoa não seja alfabetizada. Isso acontece com nossos alunos, palavras desconhecidas eles costumam errar. Fazer uso da Língua Portuguesa não é fácil.

Debate: Qual a concepção dos professores sobre Letramento antes e depois do debate?
Algumas declarações:
__ Eu acho que Letramento é quando a criança lê e entende aquilo que está lendo, ou seja, interpreta. (professora de matemática)
__ Existe uma diferença entre alfabetizado e letrado, nem todo alfabetizado é letrado, nem todo letrado é alfabetizado. (professora de Língua Portuguesa)

Depois de tais declarações fizemos algumas colocações.
O termo Letramento apareceu em 1986, mas entrou em desuso durante muito tempo. Atualmente voltou a ser usado, porém com outra conotação. Letramento é conhecer a escrita e a leitura e fazer uso desses recursos no dia-a-dia.
Questões que foram debatidas.
Vocês acham que a escola é essencial para o Letramento?
__ Acreditamos que a escola é a mediadora desse conhecimento, porque ainda, por exemplo, que a Internet e outros meios de comunicação coloquem o conhecimento à disposição de todos, cabe a escola preparar o indivíduo para questionar e ser crítico com toda informação que recebe.
__ A educação a distância veio para revolucionar o ensino, por outro lado todos percebemos o quanto a figura do professor faz falta para retirar as dúvidas que só serão esclarecidas com a presença mesmo do docente.
__ Existem relatos médicos de que pessoas procuram informações pela Internet para se automedicarem e a maioria das vezes isso tem causado transtorno às pessoas, pois acham que podem fazer isso sem o contato com o médico.
__ Todos os recursos tecnológicos devem ser aceitos pela escola para ajudar no processo de ensino-aprendizagem, sem nunca excluir o trabalho do professor.
__ A escola tem que evoluir para socorrer os alunos que utilizam a mídia e outros recursos sem nenhum posicionamento crítico.
__ Nossos alunos têm usado a linguagem de Internet também em sala de aula e isso é uma influência negativa do uso inadequado dos recursos tecnológicos, por isso, precisamos incluí-los em um certo nível de letramento para saber diferenciar o uso da linguagem de acordo com cada momento.
__ Daí a importância do nosso papel como professor-letrador.

O letramento é mesmo importante?
__ Acreditamos que sim, pois não adianta alfabetizar o aluno sem ele colocar em prática o que aprendeu.

Essa reflexão auxiliou em algum aspecto sobre o problema do rendimento?
__ Esse debate nos ajudou a expor algumas das angústias que nós professores temos quando pensamos em ensinar nossos alunos num mundo onde tudo é atraente e a escola para eles é tachada de chata.

Quais a sugestões de intervenções feitas a partir da reflexão sobre Letramento?
__ Através da variedade textual, da contextualização do ensino.
__ Não ensinar apenas para aprender aquilo que é obrigação do currículo, mas ensinar para a vida.

Quais as dificuldades encontradas para realizar esse trabalho?
__ Resistência dos professores para aprender e pôr em prática o que é novo. Falta de treinamento adequado na formação do professor.
__ Existe uma parte teórica bonita, mas a resistência para trabalhar de outra forma é grande.
__ Alguns professores nem entraram na biblioteca (local onde foram feitas as discussões) porque não estavam afins de ouvir qualquer coisa.

O estudo trouxe alguma contribuição para o grupo?__ Certamente que sim, pois discussões desse tipo sempre devem acontecer na escola.

Esse momento foi muito enriquecedor. Confesso que inicialmente estava achando isso uma grande bobagem que ninguém iria se envolver nas discussões, pois aconteceu exatamente o contrário.

terça-feira, 1 de julho de 2008

II Fórum do CEFORME (Heranças da Leitura)


Nosso encontro nessa manhã do dia 01 de julho começou com a apresentação do Projeto ÁGUA, de cunho artístico, cujo objetivo é a conscientização dos nossos alunos sobre a importância da água para o Planeta. Haverá palestra na escola, um teatro com dramatização de um texto poético e uma dança, além de um debate com alunos, professores e os artistas do projeto. A apresentação da dança e da dramatização foi emocionante, envolvendo-nos a tal ponto que nos faz realmente sentir como seria um Planeta sem água.
O segundo momento desse encontro contamos com a presença da escritora Maria Antonieta Cunha e seu filho Léo Cunha, também escritor. Maria Antonieta é uma grande especialista em leitura. Na sua apresentação falou de sua experiência como escritora, além de ser mãe e educadora. Seu gosto com a leitura começou cedo quando a mãe lia para ela ainda pequena. Depois, ao ingressar na escola teve o privilégio de ser aluna de uma professora que lia para seus alunos, sempre 10 minutos antes de acabarem as aulas. Lia sem cobranças, por prazer de ler e contagiava seus alunos, inclusive ela, Maria Antonieta. "Nada pode substituir a experiência da literatura".
Uma das experiências marcantes de sua idade escolar foi também o "caixote de livros", todo dia um aluno escolhia um livro para levar para casa, e assim sempre devolviam sem precisar fazer nenhum controle sobre os livros emprestados. Segundo Maria Antonieta, "hoje falta um trabalho mais adequado e mais amoroso com a literatura; o contato com a literatura pode fazer a diferença: para se ter uma melhor crítica, uma melhor consciência..."
Precisamos definir claramente o papel da escola no incentivo à leitura. Depois dos pais que lêem para seus filhos, o (a) professor (a) deve assumir esse papel, especialmente quando os pais não lêem para os filhos. Professores precisam ler e ensinar a gostar de ler. Essas foram algumas das palavras de Maria Antonieta.
Em seguida, foi a vez de Léo Cunha falar e contar sua experiência com a literatura, que começou quando a mãe tinha uma livraria. Esse incentivo à leitura continuou e despertou nele a vontade de ser escritor além de ser professor também. Segundo Léo Cunha, os pais devem ler até quando o bebê está ainda na barriga da mãe, foi o que fez quando sua esposa estava grávida de sua filha. Ele também lia quando ela ainda estava no berço. Hoje ela ama leitura.
Mas se nossos alunos não encontram nos pais o exemplo da leitura, cabe a nós professores os ingressarmos nesse mundo da imaginação, sonho e fantasia. Só assim poderão realmente receber as heranças da leitura que merecem e que têm direito de receber. Esse é o papel da escola, ainda que os pais não cumpram sua parte.
"A literatura como toda obra de arte é uma confissão de que a vida não basta."
Fernando Pessoa"

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O termo Letramento



Hoje não pude comparecer ao curso, porém resolvi fazer uma pesquisa sobre o termo letramento e encontrei noções interessantes que gostaria de compartilhar.
Letramento é o resultado da ação de ensinar a ler e escrever. É o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita.
Surge, então, um novo sentido para o adjetivo letrado, que significava apenas “que, ou o que é versado em letras ou literatura; literato” , e que agora passa a caracterizar o indivíduo que domina a leitura, ou seja, que não só sabe ler e escrever (atributo daquele que é alfabetizado), mas também faz uso competente e freqüente da leitura e da escrita. Fala-se no letramento como ampliação do sentido de alfabetização.
O nível de letramento é determinado pela variedade de gêneros de textos escritos que a criança ou adulto reconhece. Segundo essa corrente, a criança que vive em um ambiente em que se lêem livros, jornais, revistas, bulas de remédios, receitas culinárias e outros tipos de literatura (ou em que se conversa sobre o que se leu, em que uns lêem para os outros em voz alta, lêem para a criança enriquecendo com gestos e ilustrações), o nível de letramento será superior ao de uma criança cujos pais não são alfabetizados, nem outras pessoas de seu convívio cotidiano lhe favoreçam este contato com o mundo letrado.
Estudiosos afirmam que são muitos os fatores que interferem na aprendizagem da língua escrita, porém estudos recentes incluem entre estes fatores o nível de letramento. Paulo Freire afirma que "na verdade, o domínio sobre os signos lingüísticos escritos, mesmo pela criança que se alfabetiza, pressupõe uma experiência social que o precede – a da 'leitura' do mundo, que aqui chamamos de letramento.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O papel da fonética e da fonologia no ensino da língua

Durante nosso trabalho com o ensino da língua nos deparamos com alunos que ao escreverem um texto fazem uso de algumas palavras da forma como falamos. Escrevem "muinto" ao invés de "muito", "disconta" ao invés de "descontar", “mendingo” ao invés de “mendigo”, esses são alguns exemplos.
Para refletir sobre essa forma de registro da língua proponho lançarmos um olhar mais atento em como a criança descobre o mundo da leitura e da escrita.
A criança passa por todo um processo de construção do saber antes de se alfabetizar. Primeiramente, ela aprende que tudo que ela fala se escreve; depois precisa entender que algumas palavras apresentam formas diferentes na fala em relação à escrita. Então, ela começa a questionar: "Professor, se eu falo 'bolu', porque tenho que escrever 'bolo'?" Dizer que "nós é que falamos errado" nem de longe é a melhor resposta. É preciso fazer com que a criança compreenda que a posição da letra na palavra vai interferir no som. O som do "o" quando tônico se escreve como se pronuncia, como é o caso de "jiló", por outro lado, quando átono a letra “o” assume o som de “u” como em “globo” (globu). Esses são apenas alguns dos casos que podem ser explicados através da Fonética e da Fonologia, pois as duas ciências estudam o som. A diferença entre elas é que a Fonética tem o papel de descrever todos os sons pronunciados nas línguas e a Fonologia organiza esses sons.
No nosso encontro de hoje percebemos como os aspectos fonéticos e fonológicos podem nos ajudar na tarefa de conduzir nosso aluno ao mundo letrado, fazendo com que reflitam sobre o uso da língua e sua escrita.
Através de um trabalho de pesquisa feito por uma de nossas colegas, conhecemos algumas das propostas da professora Miriam Lemle, retiradas da obra Guia teórico do Alfabetizador.
Segundo Miriam Lemle para a criança aprender a ler ela precisa, primeiramente, saber o que é um símbolo, e para isso, basta levarmos para sala de aula como atividade de observação alguns símbolos encontrados no mundo.
Desenvolver a consciência da criança para percepção dos diferentes sons através da combinação de um grande número de letras que ela precisa conhecer é um processo que ocorrerá em todo caminho escolar através de exercícios que incluem desde criar listas de palavras que rimam até o exercício do ato de brincar de ler.
Para que a criança avance em seu processo de ensino é preciso criar exercícios desafiadores e que desenvolvam a reflexão e observação.
Quanto ao ato de corrigir nossos alunos, precisamos definir em quais aspectos nos deteremos (coerência, ortografia, estruturação do parágrafo, etc) para que não corramos o risco de corrigir demais e amedrontar quem está tentando escrever e acertar.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A língua como prestígio ou estigma

No encontro de hoje ficou claro em nossas discussões que o professor de língua portuguesa precisa repensar sua prática pedagógica. Somos professores de língua materna, a mesma falada pelos nossos alunos, por esse motivo, se eles sabem se comunicar como podemos dizer que não sabem o português? Nossos alunos sabem o português, o que acontece é que eles usam apenas uma variação da língua.
Existe uma constante avaliação social que atribui prestígio ou estigma às diferentes falas. O que percebemos é que quanto maior é o letramento, mais a fala se aproxima da linguagem padrão; por outro lado, quanto menor é o letramento mais estigmatizada se torna a fala do indivíduo.
Na prática, enquanto a elite possui o domínio da língua considerada politicamente correta, a periferia é vista como aquela que fala erroneamente.
A função da escola Pós-Moderna é a de incluir nossos alunos no maior nível de letramento possível. Eles precisam conhecer a modalidade de língua considerada padrão, pois essa é a chave para um futuro melhor.
Mas a escola não pode continuar com um discurso tradicionalista, em que o professor fala 85% e ao aluno resta apenas 15%. Está na hora de equilibrar essa fala, de tornar a escola verdadeiramente interativa. Trabalhar de forma interdisciplinar é uma forma de envolver o aluno e toda equipe de professores e assim, tornar as aulas mais atraentes e mudar a cara da escola.

"O principal objetivo da educação é criar homens capazes de fazer coisas novas não simplesmente de repetir o que outras gerações fizeram, homens criativos, inventivos, descobridores" Piaget

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Reformulação do currículo das escolas públicas

Nosso encontro aconteceu na Escola Parque da 307/308 Sul para discussões acerca da reestruturação do currículo das escolas públicas. O encontro reuniu professores de língua portuguesa e de língua estrangeira com o objetivo de dialogar sobre a reestruturação curricular com base nas novas diretrizes do MEC.
Inicialmente, houve uma explanação sobre o ensino de línguas estrangeiras na UNB, especificamente o espanhol, francês, inglês e japonês, e sobre a formação lingüística nessas áreas de estudo. Essa discussão sobre o processo de reestruturação curricular começou em 2004 e 2005 no âmbito do corpo docente e discente da área de letras.
Em seguida, ouvimos algumas colocações da Profª Jane. Segundo ela, "A educação é um vírus, quem vive pela educação já está doente de amor."
O conceito de currículo é "lugar onde se corre", e curiosamente aparece na obra de Bobblit com o significado de planificação do ensino. Segundo Jane, para serem coerentes, os currículos deveriam permitir o curso de vida ou a construção de uma trajetória única. Sabemos que nem tudo que está no currículo deve ser para sempre e se o mundo evolui, a mudança também se faz necessária para o currículo.
Temos ainda muitos caminhos a percorrer nessa discussão, logo outros encontros acontecerão para construção do novo currículo.
"Nascemos para aprender;
Nascemos para descobrir;
Nascemos para conhecer as leis da natureza, respeitar a lógica do vivente;
Nascemos para organizar, conectar, associar e classificar;
Nascemos para criar sentido, ancorar;
Nascemos para escolher, por conseguinte, nos engajarmos e decidir;
Nascemos para inovar, criar, imaginar, diferenciar;
Nascemos para trocar, interagir, entrar em reciprocidade." (Hélene Trocme - Fabre 2005)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Encontro com o escritor

No nosso primeiro encontro com o escritor, tivemos a companhia de dois grandes nomes da literatura infanto-juvenil, André Neves e Jonas Ribeiro.

André Neves nasceu em Recife e mora em Porto Alegre. Formado em Relações Públicas, começou a estudar Artes Plásticas em 1995. Desde então, atua como escritor e ilustrador de suas obras e de outros autores. É arte-educador e promove palestras e oficinas sobre Literatura Infantil e Juvenil.
Jonas Ribeiro é formado em Língua e Literatura Portuguesa pela PUC/SP. Participa de vários projetos de incentivo à leitura e já percorreu mais de 648 escolas das redes pública e particular; contando histórias, ministrando cursos e divulgando seus livros.

Os dois são amigos e já publicaram livros juntos. Durante o fórum, Jonas Ribeiro contou algumas de suas histórias de forma dinâmica e interativa, utilizando a linguagem corporal e a palavra, contextualizando o cotidiano popular para dar vida às personagens de alguns de seus livros.
André Neves falou sobre as ilustrações dos seus livros, ressaltou que a ilustração é componente fundamental de uma história, ela é um auxiliar visual didático, uma verdadeira interação com o texto escrito.
Contar histórias é levar a criança e o adolescente a um mundo além da imaginação. Uma história bem contada pode despertar no aluno a vontade de ler um livro e quem sabe até de ir em busca de outras histórias que o faça viajar para outros mundos.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Variação Lingüística

A nossa língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes. O uso de uma língua sofre variações de acordo com uma época, uma região, uma classe social, etc. Além do mais, cada um de nós, dependendo da situação, pode fazer uso de diferentes formas da língua no ato de comunicar-se.

Sabemos que durante muito tempo e até certo ponto, ainda hoje, o ensino de língua portuguesa no Brasil vem sendo acompanhado por um certo preconceito linguístico. Algumas pessoas com um alto nível de escolarização, acreditam que falam "melhor" e mais "bonito" porque são capazes de dominar alguns usos complexos da escrita, ao mesmo tempo julgam aqueles que não puderam frequentar a escola ou que pouco frequentaram, dizendo que eles falam "tudo errado" ou ainda, que "falam feio".

Quantos de nós professores já não nos deparamos dizendo diante de um erro: "essa doeu em meu ouvido", "assassinaram a gramática", e outras expressões carregadas de julgamentos que ao invés de ensinar o aluno, só faz depreciá-lo. Podemos perceber a consequência de uma forma errada de corrigir relatada no texto "Nóis mudemo"de Fidêncio Bogo, lido no encontro de hoje. O garoto se sentiu tão humilhado diante da gozação da turma por sua forma de falar, que nunca mais voltou à escola. O resultado dessa evasão escolar foi a consequente exclusão social, até pela cadeia o personagem passou. A escola é o único meio capaz de retirar o cidadão dessa exclusão e para tanto é preciso romper com essa repressão diante da forma de se comunicar.

Felizmente, nos últimos anos com o surgimento da sociolinguística o papel da escola vem passando por mudanças significativas no estudo da língua. A sociolinguística reconhece que existe uma variedade linguística, ou seja, cada grupo social tem um modo de falar característico.
Acima dessas variedades há uma norma-padrão, considerada a língua correta e de prestígio social. Cabe à escola levar aos alunos o conhecimento das formas prestigiadas da língua, sem ridicularizá-los diante do uso das variedades linguísticas que fazem parte de sua identidade cultural e social. O nosso grande desafio é fazer com que nosso aluno amplie seu repertório linguístico de uma forma tranquila através da prática da leitura e escrita, sem exercícios mecânicos e descontextualizados.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Como eu falo?

Falar alto ou falar baixo, falar com autoridade ou com ternura, falar bem ou não conseguir se expressar; não importa como falamos, o que importa é que a fala é a identidade individual de cada um de nós. Através da fala podemos expressar o que pensamos, dizer o que sentimos e interagir com diferentes pessoas, mas ao mesmo tempo ficamos expostos a julgamentos e avaliações por parte de quem nos ouve.

A fala também pode dividir e gerar discriminação, principalmente nas sociedades em que há uma estratificação de classes sociais, econômicas, culturais, etc. Existem aqueles que se dizem "dominantes da língua culta", cujo falar pode ser considerado "certo", em contraposição aos que são estigmatizados de "falar feio".

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.

A linguagem humana não é homogênea e estática, ao contrário, sua maior característica é a sua capacidade de variação e mudança, por esse motivo é que parece existir um grande foço entre a língua falada e a língua escrita. Sabemos também que o uso de formas variadas na língua está ligado ao grau de escolarização e nesse sentido, em nosso país, permanecer um período mais prolongado numa escola de qualidade, depende da renda econômica de cada um. Dizer que um cidadão que fala "armoçá" ao invés de "almoçar" não sabe falar é uma forma de discriminá-lo. Destacar esse erro não vai ajudá-lo a aprender, e sim, afastá-lo da escola.

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.
Vamos repensar nossa forma de ensinar a língua materna...

"Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado..." (Rubem Alves)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Linguagem e a escrita

Esse é o quarto encontro e como tem sido bom socializar idéias, discutir, traçar novos caminhos e tentar acalmar as angústias que nós professores sentimos quando falamos em trabalhar textos. Talvez toda essa angústia aconteça porque a escola tem priorizado o trabalho com a escrita e deixado em segundo plano o desenvolvimento da oralidade.

Sabemos que nosso aluno quando ingressa na escola traz consigo toda linguagem que aprendeu durante sua vivência. Sua fala é marcada pela influência dos pais, dos amigos e da comunidade em que está inserida.

Hoje, durante uma atividade pudemos ouvir a gravação de uma entrevista feita com jovens estudantes em um evento esportivo e, em seguida, fizemos uma análise de toda linguagem usada. Constatamos que a variedade lingüística predominante durante a entrevista foi a gíria e que as respostas dadas pelos jovens ao entrevistador eram superficiais, evasivas e repetitivas. Assim, concluímos que a linguagem do nosso aluno precisa ser trabalhada de forma que ele saiba usá-la adequadamente em cada situação. Durante uma entrevista, por exemplo, o uso da gíria pode tornar a entrevista impossível de se entender, pois ela é uma linguagem que pertence a um grupo específico e só ele muitas vezes é quem detém o significado das palavras usadas.

Numa outra atividade, analisamos redações de alguns alunos e pudemos perceber a marca da oralidade registrada nas mesmas. É preciso desenvolver no aluno um senso crítico em relação a seus próprios erros, para isso podemos criar uma ficha de avaliação em que constem os itens cobrados pelo professor. Com base nessa ficha, o aluno poderá rever o seu texto e reescrevê-lo, consertando os erros necessários. A partir daí, o aluno perceberá que escrever é um ato que requer reflexão e conhecimento da língua.
Nosso papel de professor é desenvolver no aluno a capacidade de buscar a sua forma de aprender. Logo, o erro deve ser visto como uma ponte pela qual todos precisam passar para chegar até o correto. Assim é que se constrói o conhecimento.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Interação

Desde o nosso nascimento somos socialmente dependentes dos outros e através da linguagem dos adultos aprendemos a nos comunicar. Assim, o desenvolvimento humano ocorre a partir das relações sociais que a pessoa estabelece no decorrer da vida.
Quando a criança entra na escola, leva consigo a bagagem de conhecimento que acumulou através da oralidade. Logo, ela já conhece o sistema da língua materna antes mesmo de aprender a ler e escrever. Ou seja, ela já faz uso de textos em sua comunicação, sem mesmo saber o que isso significa no nosso mundo.

Porém na sala de aula, nós professores tendemos a priorizar como texto a escrita dos alunos, esquecendo-nos que a expressão corporal e a oralidade também são textos e que esses códigos devem ser aproveitados no processo de ensino-aprendizagem.
Além de trabalhar textos escritos, nós professores precisamos também usar outros recursos como forma de aproveitar a oralidade do nosso aluno, desenvolvendo atividades como dinâmicas, entrevistas, debates, apresentações de jornais e outros.
É preciso desenvolver a linguagem dos alunos para que entendam que o seu uso deve ser adequado a cada situação, que as gírias não podem aparecer, por exemplo, em uma apresentação de jornal.

A sala de aula deve ser considerada um lugar privilegiado de sistematização do conhecimento e o professor um articulador na construção do saber. Isso não significa que na sala de aula somente o professor informa e os alunos assimilam as informações, ao contrário, ela deve ser um ambiente interativo, onde todos terão a possibilidade de falar, levantar suas hipóteses, questionar e chegar a conclusões.
Falando sobre interação, lembremos qual a definição dos dicionários para essa palavra (Interação: ação que se exerce mutuamente entre duas ou mais coisas, entre duas ou mais pessoas; força que duas partículas exercem uma sobre a outra).
A partir dessa definição concluímos que a interação nem sempre ocorre em toda sala de aula, pois nos momentos em que houver apenas a emissão do conhecimento através do professor, entretanto o aprendizado ficar comprometido, não haverá interação. Em sala de aula para existir interação professores e alunos devem construir juntos o conhecimento.

Essas sugestões vêm derrubar a idéia de uma escola que durante anos exerceu a função dominante do saber, lugar em que deveria prevalecer o silêncio, cuja tarefa do professor era ensinar uma imensidão de teorias e a do aluno, apenas de copiar e escutar a explicação. Se o aluno não aprendia, o professor nem se preocupava em saber, pois estava ali apenas para passar informações prontas.

Uma aula interativa é muito mais fascinante para aluno, pois ele descobre que o saber não é algo que vem pronto, ao contrário, o saber se constrói através dessa troca de conhecimento que existe entre o ensinar e o aprender.

“...Quem gosta de viver não tem preguiça de reinventar, nem medo de ousar. Quem gosta de viver não tem medo de ternura, da gentileza, do amor. Quem gosta de viver, educa!...” Gabriel Chalita

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Letramento

"O ato de ler e escrever deve começar a partir de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem antes de ler a palavra. Até mesmo historicamente, os seres humanos primeiro mudaram o mundo, depois revelaram o mundo e a seguir escreveram as palavras." (Paulo Freire)

Hoje ocorreu nosso segundo encontro no Curso Alfabetização e Linguagem. Compartilhamos a leitura "Procura da Poesia" de Carlos Drummond de Andrade, feita pela professora Tamar. Foi o momento de ouvir, emocionar-se e refletir... Foi um bom começo para este segundo encontro.

Em seguida, foi realizada uma dinâmica. Cada professora recebeu um pequeno papel, sem saber o que estava escrito. Os papéis estavam divididos em dois grupos: de um lado, "objetos que tinham a falta de um acessório", de outro lado, "os acessórios que completavam esses objetos". Exemplificando: Alguém retira a seguinte frase "Eu sou a mala sem alça", enquanto outro retira "Eu sou a alça da sua mala". Aos poucos nós encontramos nossos pares e fomos nos abraçando. Descobrimos que é muito bom caminharmos juntos no ato de ensinar e que esse tipo de interação também pode ser levada para a sala de aula.

Retomando o texto "Celulares _ Só faltam dominar o mundo" do encontro anterior, fizemos um levantamento de quantas atividades são possíveis de serem trabalhadas com nossos alunos. Comprovamos que através de um simples texto, podemos planejar um trabalho que pode até durar meses e o que é melhor, um trabalho interdisciplinar. Eis algumas atividades propostas: dramatização e ilustração (Artes); revolução industrial, inclusão digital e história do celular (História); questões estilísticas, ortografia, variações lingüísticas, intertexto, estrutura narrativa e tipologia textual (Língua Portuguesa); inteligência artificial, tecnologia (Ciências) e ainda comportamento (Religião).

Para tornar o trabalho mais atraente, podem ser exibidos filmes que completam o assunto, fazendo com que os alunos tenham uma visão crítica a respeito do domínio da máquina sobre o homem. Como é enriquecedor quando trabalhamos em conjunto. Através da troca de experiências e idéias chegamos a uma ampla lista de atividades que levam nossos alunos a entender o texto, desenvolver a linguagem, ampliar o conhecimento de mundo e interagir em sala de aula.

Terminado este tema, partimos para um reunião em pequenos grupos, com a proposta da leitura do texto "Letramento: Você pratica?". Depois das discussões no âmbito de cada pequeno grupo, fizemos uma discussão maior com o grupo todo. Através dessas discussões conseguimos entender o significado da palavra "letramento" que vem sendo usada há alguns anos no setor educacional.

O vocábulo "letramento" surgiu mediante a constatação de muitos estudiosos "de que não basta apenas o saber ler e escrever, necessário é saber fazer uso do ler e do escrever, saber responder às exigências de leitura e de escrita que a sociedade faz."

Quando um indivíduo se apropria da leitura e escrita dizemos que ele está alfabetizado, por outro lado, o uso social que ele faz desse conhecimento chamamos de letramento. Podemos concluir que alfabetização e letramento estão intrinsicamente ligados, pois a alfabetização é um processo contínuo e a esse mesmo processo denominamos letramento.

Não significa que todo indivíduo alfabetizado, seja letrado; por outro lado, um adulto analfabeto pode ser letrado. Parece até uma controvérsia, mas na realidade existem pessoas que mesmo alfabetizadas não são capazes de pôr em prática o uso do conhecimento adquirido. Em contrapartida, mesmo um adulto que não saiba ler e escrever pode fazer uso da escrita através de um escriba que registra aquilo que ele dita.

A alfabetização com a prática do letramento requer do educador uma reflexão crítica sobre sua prática educativa, para isso mudanças de paradigmas e aquisição de novos aprendizados se fazem nessárias.

No que diz respeito a aquisição de novos aprendizados, quero encerrar dizendo que este curso vem somando uma parcela de contribuição ao nosso trabalho. E acredito que ao longo de todo curso reconstruiremos algumas práticas educativas.
















quinta-feira, 3 de abril de 2008

Leitura, Interpretação e Produção de Textos

O Curso de Alfabetização e Linguagem não tem a finalidade de dar fórmulas mágicas para o trabalho com a leitura e produção de textos, mas sim de encontrar conjuntamente o melhor caminho para despertar no aluno o interesse pelo mundo da leitura influenciando assim na sua escrita.

No início do nosso primeiro encontro, contemplamos a leitura do livro "A moça tecelã" de Marina Colasanti e com ele foi possível fazermos uma reflexão do que ocorre com a vida de muitas pessoas que fazem escolhas erradas e depois se arrependem. Para ensinar é preciso repensar as atitudes e escolher o melhor caminho para atingir os objetivos a serem alcançados.
Partindo da analogia do ato de tecer com a vida, chegamos à conclusão que em nossa história profissional encontramos os "nós" que nos impulsionam e que nos marcam. Assim, no decorrer do curso, recebemos a proposta de pensar sobre os "nós" de nossa vida profissional. "O que ou quem nos influenciou na carreira do magistério?", "Qual foi a situação mais marcante em sua profissão?" Essas foram algumas das questões propostas.
Aprendi a olhar dentro de mim mesmo e pensar em como escolhi minha profissão. Foi aí que me lembrei de uma professora de Português da 8ª série, chamada Vera, pessoa que me fez entender e gostar do estudo da língua do nosso país.

Logo após a reflexão, todos relataram um pouco de sua história. É maravilhoso pensar que nossas vidas formam belos tecidos, que cada um de nós temos mãos de tecelãs e mesmo que alguns "nós" se formem durante todo trabalho (a vida), seremos capazes de continuar nossa árdua missão, continuar a tecer o fio da existência.

Após essas reflexões, algumas questões foram discutidas acerca do trabalho com a Língua Portuguesa: "Como você costuma trabalhar a Língua Portuguesa?"; "Quais os apectos são privilegiados na sua prática?"; "Quais os recursos mais utilizados na sua sala de aula?"; "Quais os tipos textuais mais utilizados por você?"; e "Qual a importância da leitura e da oralidades no seu planejamento?"
Através dos comentários de cada professora, percebemos a dificuldade em despertar nos alunos o gosto e o prazer de ler. Essa dificuldade é uma conseqüência da realidade cultural em que vivem, realidade essa em que "livros" não fazem parte da rotina da maioria deles, pois muitos desses alunos não encontram nos pais o hábito da leitura, quer por uma questão econômica ou porque esses mesmos pais não são alfabetizados. Por isso, cabe à escola o papel de introduzir esses alunos no mundo das letras.

Ao final fizemos a leitura do texto "Celulares _ Só faltam dominar o mundo" (Antônio Brás Constante) , e a proposta de atividade é a sugestão das formas de trabalhar com o mesmo. Mas isso é uma atividade que discutiremos no próximo encontro.
Foi o início de um curso enriquecedor, e acredito que ao longo de outros encontros só temos a crescer com a troca de experiência, a crítica construtiva, o debate e propostas de um trabalho diferenciado.

"A minha preocupação não está em ser coerente com as minhas afirmações anteriores sobre determinado problema, mas em ser coerente com a verdade. O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo, a verdade não se torna erro pelo fato de ninguém a ver." Mahatma Gandhi