"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Análise da variação linguística através do filme brasileiro "Desmundo"

No encontro de hoje tivemos a oportunidade de assistir ao fime "Desmundo". "A história se passa no Brasil, por volta de 1570. Chegam ao país algumas órfãs, enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os primeiros colonizadores. Uma delas, Oribela (Simone Spoladore), é uma jovem sensível e religiosa que, após ofender de forma bem grosseira Afonso Soares D'Aragão (Cacá Rosset) se vê obrigada em casar com Francisco de Albuquerque (Osmar Prado), que a leva para seu engenho de açúcar. Oribela pede a Francisco que lhe dê algum tempo, para ela se acostumar com ele e cumprir com suas "obrigações", mas paciência é algo que seu marido não tem e ele praticamente a violenta. Sentindo-se infeliz, ela tenta fugir, pois quer pegar um navio e voltar a Portugal, mas acaba sendo recapturada por Francisco. Como castigo, Oribela fica acorrentada em um pequeno galpão. Deprimida por estar sozinha e ferida, pois seus pés ficaram muito machucados, ela passa os dias chorando e só tem contato com uma índia, que lhe leva comida e a ajuda na recuperação, envolvendo seus pés com plantas medicinais. Quando ela sai do seu cativeiro continua determinada a fugir, até que numa noite ela se disfarça de homem e segue para a vila, pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um português que também morava na região."
Esse filme mostra claramente o domínio do homem sobre a mulher, as diferenças étnicas entre as personagens: índios, negros, portugueses, espanhóis, além disso, fica-nos clara a mudança ocorrida com a língua portuguesa. É uma linguagem falada por volta do século XVI e que, em muitos momentos do filme ficaríamos sem entender o que estavam falando não fosse a presença da legenda que nos orientou.
Essa mesma língua falada por eles é a nossa língua portuguesa dos dias de hoje. Mas então, por que temos tanta dificuldade em entendê-la?
A língua que eles usavam tinha uma formatação diferente da nossa atualmente. Especificamente as formas verbais foram as que mais mudaram. Através do filme percebemos o uso de algumas palavras como por exemplo "suzinho" ao invés de "sozinho", que hoje, se ouvimos alguém falar daquela forma, consideramos como um "erro".
Há um mito no ensino da língua portuguesa. O que muitos consideram como erro é na realidade uma diferente forma de falar e que se formos analisar diacronicamente a "palavra" chegaremos à conclusão de que em algum momento histórico-cultural a mesma palavra considerada erro foi usada por falantes da língua portuguesa.
Porém, se uma língua apresenta uma distância tão grande entre uma forma de falar e entender, vêm-nos a questão: será que falamos a mesma língua? Então os linguistas responderiam que a língua é a mesma e que nós poderíamos nos considerar bilíngues, pois temos dentro de uma mesma língua várias formas de nos comunicar, basta escolher entre a forma padrão e a coloquial. E sabemos que por vários motivos (social, econômico, nível de formalidade, nível escolar...) grande parte das pessoas fazem uso da forma coloquial da língua, até mesmo as pessoas consideradas "estudadas".

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