"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Trabalho com os alunos da 5ª série

Nossos encontros estão se tornando cada vez mais prazerosos, pois a cada aula temos a oportunidade de conhecer, através das socializações de atividades, um pouco do trabalho das demais colegas de sala. Isso tudo se torna possível considerando que nos manifestamos linguisticamente e quando fazemos isso, o fazemos por meio de textos nas mais diversas modalidades.
E hoje foi um dia especial, pois tive a oportunidade de apresentar um pouco da minha experiência em sala de aula como professora de língua materna. O primeiro passo antes de aplicar uma atividade de reflexão e análise da linguagem foi pensar nos objetivos que gostaria de alcançar com determinada atividade. Escolhi uma atividade de jornal falado do fascículo 7 e fiz as minhas adaptações. Meu objetivo: desenvolver no aluno a capacidade de escolha da linguagem adequada à situação comunicativa.
No primeiro momento, em dupla, os alunos fizeram uma pesquisa sobre como os jornalistas apresentam os jornais. Assistiram aos vários tipos de programas informativos para depois criarem seus textos e treinarem a postura.
Eles fizeram um esboço do que iriam apresentar e depois que corrigimos os textos, vieram as apresentações.
Os jornais falados foram um sucesso e eles se divertiram e se envolveram no trabalho do começo ao fim. As aulas de Português se tornaram mais atrativas e chamavam atenção das pessoas que passavam pelo corredor.
Percebi que em minhas aulas estava mais preocupada com a escrita e deixando a oralidade para trás. Agora percebo o quanto aulas desse tipo são proveitosas e mudam a rotina escolar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Uma reflexão sobre o ditado em sala de aula

"A afatipa velo pode vê.
Maria linfou o jamoso peixaral.
Zambão sarrega o japeguinho.
O circuxento ortecujou a gimália."
Você deve estar estranhando as palavras acima. Elas até parecem uma língua inventada, mas não é nada disso não. No encontro de hoje, essas palavras nos foram ditadas para que escrevêssemos da maneira como ouvíssemos.
Após o ditado comparamos as formas com que cada professora escreveu as frases (se é que podemos chamar isso de frase). As palavras que apresentaram diferenças nas formas escritas foram aquelas em que o som não deixava claro qual letra devíamos usar, pois não existem regras para essas palavras desconhecidas. Exemplos: circuxento/ circuchento/ sircuxento.
Ao transferirmos essas reflexões para a realidade de nossos alunos, podemos concluir que, atividades como essa em sala de aula podem descaracterizar o ensino da língua.
Durante um ditado, muitos problemas podem impedir que o aluno compreenda exatamente o que o professor quis dizer como: ruídos; pronúncia diferente da forma como se escreve uma palavra, como o som do "e" na escrita aparece como "i" na fala; e ainda o fato de ditar palavras que o aluno não costuma usar e totalmente fora do contexto.
A melhor forma de fazê-lo aprender a ortografia de algumas palavras é com a leitura constante e o uso de dicionário, pois vendo na prática como pode fazer uso de tais palavras terá mais capacidade de memorizá-las.
Além disso, devemos deixar claro a importância do uso do dicionário para esclarecer dúvidas, ao qual também recorremos mesmo sendo professores de português.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Olhar com outros olhos

Como é difícil treinar nossos olhos para perceber o que está implícito seja numa figura, num texto ou quem sabe até no olhar de uma pessoa.
Digo isso porque hoje em nosso encontro tivemos a oportunidade de realizar algumas atividades com textos escritos, textos que nos levavam a pensar que se tratavam de um "objeto x" ou um "sentimento y" e que na realidade não tinham nada a ver com o que pensávamos. Ou que pudesse falar de todas as hipóteses ao mesmo tempo. É o que já disse: treinar os olhos para ver o que está "por trás".
Até mesmo algumas imagens podem nos mostrar uma ilusão de ótica. Imagens podem ser interpretadas, vistas por olhos atentos, uma imagem pode transformar uma figura de acordo com o que se quer ver.
Assim são as pessoas, assim são nossos alunos. Podemos olhar dentro de seus olhos e tentar interpretá-los. Tentar entender porque apresentam dificuldades na aprendizagem. Muitos deles escondem dentro de si uma história difícil de vida que os impediram de vencer nos estudos. Apresentam dificuldades que a escola não consegue descobrir, porque a maioria dos profissionais não foram treinados para olhar para eles com outros olhos.
Pois então, vamos olhar para suas "janelas da alma". O olhar triste de um jovem nos mostra quando ele precisa ser decifrado. Uma atenção para esse olhar pode fazer a diferença. Ele espera que alguém o retire desse abismo e traga-o à luz da aprendizagem.
Vamos treinar nossos olhos para ver o que está "por trás" de tantos problemas de aprendizagem e isso só será possível se unirmos o ato de ensinar com o ato de amor, carinho e atenção.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

A mudança da língua frente a outras mudanças

Como posso começar a escrever? Parece-me uma tarefa árdua essa de colocar as palavras certas para expor o que penso. Escrever é algo que requer reflexão, requer silêncio, mas ao mesmo tempo requer o som. O som de uma música? O som de palavras proferidas a distância?
Demoro um pouco a descobrir, todavia é o som de meu próprio pensamento que ouço; ouço porque falo comigo mesma.
O que sinto hoje? O que sou? Não sou mais a mesma professora que iniciou este curso de "Alfabetização e Linguagem" pensando em encontrar fórmulas secretas para fazer meus alunos aprenderem a "escrever certo" e quem sabe até "falar certo".
E o que encontrei? Encontrei o caminho para corrigir a mim mesma. Corrigir a minha própria forma preconceituosa de pensar. Pensar que eu sendo professora era "dona do saber" e que meus alunos falantes de "língua materna" precisavam aprender a usar a língua portuguesa.
E o que aprendi? Já em tempo, eu aprendi que se eles são falantes de língua materna, então eles conhecem a língua que falam. Eu aprendi que a forma como falam é uma das variedades de língua, aquela que os linguístas chamam de linguagem coloquial.
E quanto a nós professores de língua portuguesa, fazemos uso somente da linguagem chamada padrão?
Quem é que nunca se pegou num momento de descontração com a família ou com amigos íntimos a usar "a gente vai" ou até "cê vai?", e não deixou de saber fazer uso da língua portuguesa. Acho até que somos bilíngues, pois sabemos fazer uso das duas modalidades de língua (padrão e coloquial).
E o quanto nos pesa o nome de "professores de português"! Na escola somos chamados a decifrar palavras difíceis que ninguém sabe o que é e logo já vem alguém dizer: "pergunte à professora de português". Não passa pela cabeça de outros professores que também temos dúvidas e que para esclarecê-las também recorremos ao dicionário. Não passa também pela cabeça deles e de muita gente que a noção de "erro" de que a escola tradicional sempre falou sempre esteve equivocada. Aprendi com Marcos Bagno que "a expressão 'erro comum' constitui do ponto de vista linguístico, uma contradição em termos: se é comum, não poderia ser qualificado de erro, mas simplesmente de uso comum, já que é a comunidade de falantes que, num trabalho constante com a língua e sobre a língua, vai empregando e recriando o idioma ao longo da história."
É isso mesmo! A língua que falamos hoje é uma "recriação", uma "evolução". Acho que a essa altura já deveríamos falar em uma língua brasileira, já que a língua portuguesa não tem dado conta dessa variedade de língua usada pelos falantes brasileiros.
E não há como frear as mudanças da língua que é viva e não estática. E o próprio Marcos Bagno diz: "Afinal, não só a língua mudou: mudaram também as mentalidades, os gostos, as modas, as formas de organização da sociedade, os modos de produção de vida material, os sistemas econômicos, os regimes políticos, os conhecimentos sobre o homem e a natureza etc. Não há porque esperar que só a língua (>norma > gramática) permaneça imóvel, inalterada e protegida das mudanças que afetam tudo o que diz respeito ao ser humano e à sua vida histórico-social."
E se muita coisa mudou, posso dizer que também mudei minha forma de ensinar. Claro que ainda tenho um longo caminho a percorrer, e para isso continuarei estudando e descobrindo novos caminhos para conseguir ensinar de uma forma que os alunos entendam que a escola dá-lhes a oportunidade de aprender uma língua com prestígio social.