"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Como eu falo?

Falar alto ou falar baixo, falar com autoridade ou com ternura, falar bem ou não conseguir se expressar; não importa como falamos, o que importa é que a fala é a identidade individual de cada um de nós. Através da fala podemos expressar o que pensamos, dizer o que sentimos e interagir com diferentes pessoas, mas ao mesmo tempo ficamos expostos a julgamentos e avaliações por parte de quem nos ouve.

A fala também pode dividir e gerar discriminação, principalmente nas sociedades em que há uma estratificação de classes sociais, econômicas, culturais, etc. Existem aqueles que se dizem "dominantes da língua culta", cujo falar pode ser considerado "certo", em contraposição aos que são estigmatizados de "falar feio".

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.

A linguagem humana não é homogênea e estática, ao contrário, sua maior característica é a sua capacidade de variação e mudança, por esse motivo é que parece existir um grande foço entre a língua falada e a língua escrita. Sabemos também que o uso de formas variadas na língua está ligado ao grau de escolarização e nesse sentido, em nosso país, permanecer um período mais prolongado numa escola de qualidade, depende da renda econômica de cada um. Dizer que um cidadão que fala "armoçá" ao invés de "almoçar" não sabe falar é uma forma de discriminá-lo. Destacar esse erro não vai ajudá-lo a aprender, e sim, afastá-lo da escola.

O importante é que entendamos que todos temos direito à fala e que o fato de poder se comunicar não tem nada a ver com o julgamento do que é certo ou errado na língua. Nós, como professores, temos que tomar cuidado com o preconceito linguístico, atribuindo prestígio ou estigma às diferentes falas. Não significa que a língua que nosso aluno usa, estigmatizada como errada, não deva ser corrigida. O que precisa mudar é a forma de mostrar para ele que existe uma diferença entre a linguagem falada e a escrita, e que o domínio da norma culta da língua poderá lhe dar poder e controle social.
Vamos repensar nossa forma de ensinar a língua materna...

"Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado..." (Rubem Alves)

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