"Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isso não tem importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. "
(Shakespeare, Sonhos de Uma Noite de Verão)

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mudança linguística

"Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério."

Carlos Drummond de Andrade

As palavras de Carlos Drummond nos explica realmente como nos sentimos ao tentar ensinar o uso da língua portuguesa para nossos alunos. Se eles fazem uso da língua portuguesa falada, por que a linguagem escrita se torna um "bicho de sete cabeças"?
"Professora, se eu falo 'muinto' por que devo escrever 'muito'? São questões assim que me pego tentando responder. O que tento falar para eles é que a linguagem escrita deve estar dentro do uso padrão e ortográfico, claro que a língua falada sempre apresentará uma variedade de uso.
E o que dizer de alguns usos como o caso citado no fascículo 6 (o uso da palavra fruta como fruita)? Algumas pessoas fazem uso dessa palavra e ao ouvirmos consideramos como erro, porém no estudo da evolução da palavra percebemos que a forma fruita era a maneira usada no passado para indicar essa palavra. Assim tínhamos fructa> fruita> fruta, e hoje ainda ouvimos pessoas usarem a variedade fruita e esse fenômeno vem associado com o nível de estudo. É como se essas pessoas parassem no uso conservador da língua enquanto outras fazem uso da forma inovadora "fruta". Para explicar uso como este, na segunda metade do século XX, alguns pesquisadores começaram a insistir na necessidade de considerar a língua como um sistema essencialmente heterogêneo e variável.
A sociolinguística é uma ciência nova que vem nos explicar que as línguas mudam porque variam. "As línguas mudam porque, em todos momento de sua história, elas apresentam variação, isto é, concorrência entre duas ou mais maneiras de expressar o mesmo conteúdo. As línguas mudam porque são faladas por seres humanos inseridos em sociedades heterogêneas, sociedades divididas em classes sociais, em grupos de poder, onde existem relações de dominantes sobre dominados, onde os meios de acesso ao prestígio social são distribuídos desigualmente."
E essa mudança linguística é inevitável como toda mudança que ocorre no mundo e o que nos resta a fazer como professores de língua materna é encontrar maneiras inteligentes e interessantes de lidar com essas mudanças.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Análise da variação linguística através do filme brasileiro "Desmundo"

No encontro de hoje tivemos a oportunidade de assistir ao fime "Desmundo". "A história se passa no Brasil, por volta de 1570. Chegam ao país algumas órfãs, enviadas pela rainha de Portugal, com o objetivo de desposarem os primeiros colonizadores. Uma delas, Oribela (Simone Spoladore), é uma jovem sensível e religiosa que, após ofender de forma bem grosseira Afonso Soares D'Aragão (Cacá Rosset) se vê obrigada em casar com Francisco de Albuquerque (Osmar Prado), que a leva para seu engenho de açúcar. Oribela pede a Francisco que lhe dê algum tempo, para ela se acostumar com ele e cumprir com suas "obrigações", mas paciência é algo que seu marido não tem e ele praticamente a violenta. Sentindo-se infeliz, ela tenta fugir, pois quer pegar um navio e voltar a Portugal, mas acaba sendo recapturada por Francisco. Como castigo, Oribela fica acorrentada em um pequeno galpão. Deprimida por estar sozinha e ferida, pois seus pés ficaram muito machucados, ela passa os dias chorando e só tem contato com uma índia, que lhe leva comida e a ajuda na recuperação, envolvendo seus pés com plantas medicinais. Quando ela sai do seu cativeiro continua determinada a fugir, até que numa noite ela se disfarça de homem e segue para a vila, pedindo ajuda a Ximeno Dias (Caco Ciocler), um português que também morava na região."
Esse filme mostra claramente o domínio do homem sobre a mulher, as diferenças étnicas entre as personagens: índios, negros, portugueses, espanhóis, além disso, fica-nos clara a mudança ocorrida com a língua portuguesa. É uma linguagem falada por volta do século XVI e que, em muitos momentos do filme ficaríamos sem entender o que estavam falando não fosse a presença da legenda que nos orientou.
Essa mesma língua falada por eles é a nossa língua portuguesa dos dias de hoje. Mas então, por que temos tanta dificuldade em entendê-la?
A língua que eles usavam tinha uma formatação diferente da nossa atualmente. Especificamente as formas verbais foram as que mais mudaram. Através do filme percebemos o uso de algumas palavras como por exemplo "suzinho" ao invés de "sozinho", que hoje, se ouvimos alguém falar daquela forma, consideramos como um "erro".
Há um mito no ensino da língua portuguesa. O que muitos consideram como erro é na realidade uma diferente forma de falar e que se formos analisar diacronicamente a "palavra" chegaremos à conclusão de que em algum momento histórico-cultural a mesma palavra considerada erro foi usada por falantes da língua portuguesa.
Porém, se uma língua apresenta uma distância tão grande entre uma forma de falar e entender, vêm-nos a questão: será que falamos a mesma língua? Então os linguistas responderiam que a língua é a mesma e que nós poderíamos nos considerar bilíngues, pois temos dentro de uma mesma língua várias formas de nos comunicar, basta escolher entre a forma padrão e a coloquial. E sabemos que por vários motivos (social, econômico, nível de formalidade, nível escolar...) grande parte das pessoas fazem uso da forma coloquial da língua, até mesmo as pessoas consideradas "estudadas".

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Visita à Feira do Livro

Em nossa visita à feira do livro passamos pela Livraria Arco-Íris e tivemos um encontro marcado com a escritora Lucília Helena Garcez.
Ela falou da nossa responsabilidade como professoras de Língua Portuguesa. Temos que fazer com que o aluno reflita sobre o funcionamento da língua. Isso só será possível com a leitura constante.
Segundo Lucília, para transformar nossos alunos em leitores, temos que promover o contato com livros através da valorização da leitura, criando um espaço para leitura por prazer e não como obrigação ou castigo. Falar de nossas próprias leituras, valorizar os livros fazendo propaganda deles, para incentivá-los a querer ler também. Buscar o acervo da biblioteca para saber o que podem ler e até mesmo criar projetos para que a escola ganhe mais livros e assim aumentar os títulos dos quais podem buscar.
Podemos ainda criar um espaço para troca de idéias sobre os livros lidos. Quem lê deve fazer propaganda de seu livro para que outros também queiram lê-lo. Ninguém vai gostar de ler senão encontrar prazer na leitura. As pessoas vão em busca de livros e gostam daqueles que eles possam aproveitar para a vida. É preciso uma certa tolerância para permitir que as crianças leiam aquilo que gostam e assim despertarão o prazer em ler.
Para finalizar esse encontro prazeroso ela disse: "É importante que as crianças descubram o mundo das letras".